As redes sociais, tecnologia e softwares de ponta, hoje acessíveis a praticamente todos os profissionais, derrubaram uma série de barreiras para a entrada de novos “players”, principalmente nas áreas de consultoria, coaching, treinamento e outras atividades de prestação de serviço. Agora, não é mais necessário fazer anúncios pagos em revistas, alugar estandes em eventos de segmento, possuir uma série de caros certificados e diplomas relevantes, ter um longo e sólido histórico profissional para a criação de sua rede de contatos e reputação (networking), ou ter um escritório físico em um local privilegiado, para deixar o seu cartão de visitas mais pesado e valioso. Nunca foi tão fácil aparecer e “parecer” alguém de sucesso, ainda mais para aqueles que possuem uma maior desenvoltura e familiaridade com as novas tecnologias, ferramentas digitais, redes sociais e, principalmente, com gravação e edição de vídeos.
É importante tomarmos cuidado com o que já avisava Jimmy Cygler, em seu artigo “O mundo é MATRIX”, publicado na revista Exame em 2001: “Não existem mais realidades. Só percepções.”
Ao longo da vida, nossos repertórios vão crescendo, independentemente se foi de maneira planejada ou não, com um norte claro de vida ou não, de forma diversificada ou não, com conhecimentos, histórias e experiências, tendo valor para você, pessoas à sua volta, sociedade ou não. O volume do repertório de cada um tem relação direta com o tempo de vida, ou seja, quantitativamente é sempre do mesmo tamanho para pessoas da mesma idade, porém a quantidade de itens em sua história de vida pode não ter relação nenhuma com qualidade e utilidade. Entender e aplicar o conceito de utilidade é primordial para a sobrevivência e segurança, em um mundo material. O como, e os critérios com que as pessoas utilizam o tempo que possuem, são o que irá falar de qual riqueza o repertório de cada um é feito. Repertórios singulares, úteis e de aplicação rápida e prática são os que provavelmente serão mais valorizados pelo mercado.
O nosso passado pode ser visto como a nossa matéria-prima, o nosso patrimônio para lidar com a vida, também para a construção daquilo de que os clientes necessitam, que sozinhos não conseguem. Algumas pessoas são muito competentes, no que se refere a apenas passarem a impressão de que tiveram sucesso ao longo da vida (mesmo que a vida ainda tenha sido curiosamente curta) e que são muito hábeis naquilo que fazem, se vendem bem. Por outro lado, há outros indivíduos que colecionam histórias de sucesso onde foram protagonistas, e possuem, de fato, propriedade e competência para replicar esse caminho das pedras, na vida e carreira de outras pessoas, porém possuem dificuldade de se fazerem perceber de maneira condizente com o acervo de vida que já possuem e, sobretudo, podem comprovar. O ideal é possuirmos repertórios de relevância pessoal e profissional e sermos percebidos de maneira correspondente.
Quanto maiores e de mais qualidade forem os repertórios, maior será a segurança de cada um ao se expor nas redes sociais, mais confiante será a atuação profissional, e maiores também serão o vocabulário e a criatividade na elaboração de produtos, serviços e na solução de problemas.
Inicialmente podemos dividir os repertórios entre aqueles que foram construídos de forma ativa ou passiva. Os de natureza ativa foram construídos com a pessoa sentada no banco do motorista, no carro da vida – esse é o que mais interessa ao cliente. Por outro lado, os de cunho passivo remetem às pessoas que estavam no banco do passageiro, as quais podem até contar histórias que fascinam e despertam compaixão, porém, na prática, não resolvem muito a vida de quem ouve. Captam a atenção, mas não geram uma ação organizada e de imediato.
Outra maneira de classificar os repertórios é quanto a estes conterem histórias de sucesso ou fracasso. Repertórios de sucesso são fundamentais para consultores, coaches e demais prestadores de serviço, desde que este profissional tenha sido um agente ativo e crítico para a história de sucesso em questão. Com relação aos repertórios de fracasso, estes são igualmente de enorme valor, desde que tenham trazido uma maior maturidade, experiência e aprendizado e, também, que essa pessoa não fique se colocando como vítima dos outros e do mundo. Uma armadilha, para quem gosta de contar seus problemas, fracassos, traumas, histórias tristes e dificuldades da vida, é ter como objetivo principal apenas chamar a atenção, sem se ater a criar uma conexão direta destas experiências de vida com orientações e iniciativas práticas para a geração de benefícios tangíveis para a vida de outras pessoas.
Podemos ter uma grande variedade de dimensões de repertórios. Aqui vão apenas alguns destes possíveis tipos: formação acadêmica, cursos de especialização, leitura de livros, vida social e amizades, qualidade das relações familiares, aparência e cuidados pessoais, participação em atividades comunitárias, entendimento de recursos digitais, experiência de vida, histórico profissional, vivências e hábitos esportivos, viagens internacionais de lazer e profissionais, congressos e eventos no segmento onde atua, credibilidade pessoal, reputação pessoal, idiomas que domina, crença espiritual ou religiosa, nível de autoconhecimento, habilidade de autogerenciamento, estado atual da saúde e zelo com a mesma, controle emocional, e gestão da história e do patrimônio financeiro pessoal. Com certeza há outras dimensões, além de que cada uma dessas citadas, ou não, pode ter várias subdivisões.
A congruência é muito importante, não só entre a imagem projetada ou percebida pelo mercado e a história de vida e carreira profissional da pessoa, mas também entre o que o mercado desejado demanda e o que o profissional possui para oferecer como prestador de serviço.
Enfim, os seus repertórios são condizentes com a imagem que você projeta ou gostaria de notabilizar no mercado? Eles estão adequados aos desafios e necessidades trazidas pelos seus clientes, pelo mercado presente e futuro?
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