A pergunta do título possui relação direta com o fato de não estarmos no controle de todas as variáveis e estímulos à nossa volta, bem como de que é muito importante compreendermos que ter o potencial para algo não significa estar pronto para uma entrega em nível de excelência. A incompatibilidade entre potencial e entrega pode ocorrer por várias razões, entre elas limitações pessoais, pouca experiência ou conhecimentos insuficientes.
Identificar o nosso nível de prontidão no momento presente, comparar com o que queremos ou esperam de nós, assim como mapear o “gap” que existe em como estamos hoje e o que desejamos para o nosso futuro, são fundamentais para a elaboração de um plano de desenvolvimento. Da mesma forma que para atletas de alto rendimento, um plano de melhoria deveria contemplar a potencialização das forças, e a minimização ou até eliminação das fraquezas, para evitar que a presença destas não anule os talentos.
Pensar apenas em identificar e aprimorar aquilo no que a pessoa é boa, negligenciando o que não é, pode fazer com que uma pessoa nunca manifeste o seu real potencial, ou pior, pode fazer com que essa pessoa cometa erros a ponto de comprometer a sua carreira e importantes relacionamentos, em alguns casos, talvez, até definitivamente. Se procurarmos, podemos encontrar pessoas com uma quantidade enorme de qualidades, mas que, por negligenciar, ou fracassar na anulação de suas deficiências, acabam por ser evitadas por outras pessoas, clientes ou empregadores, perdendo chances de serem felizes e bem-sucedidas, tanto na vida pessoal como profissional.
O sucesso vem quando fazemos as coisas naturalmente, e quando também utilizamos nossos pontos fortes no momento, forma e intensidade adequados, em harmonia com o meio à volta. Porém, a sobrevivência pode estar diretamente relacionada ao desenvolvimento de um ponto fraco.
Uma pequena limitação pode colocar por água abaixo uma quantidade enorme de qualidades.
Sim, é necessário descobrirmos quais são nossas fortalezas, no entanto, sem sabermos como administrá-las e qual o local e momento adequado para utilizá-las, também podemos ter problemas. Também é, e talvez mais importante, saber quando usar as forças de maneira “limpa”, ou seja, manifestar um ponto forte sem a interferência ou influência de um fraco.
A obstinação pela ideia de que, para ser feliz e ter sucesso, deve-se apenas olhar para as nossas inclinações naturais, pode também ser uma maneira da fechar os olhos para as dificuldades e pontos fracos, uma maneira de fugir da necessidade de encarar algo em que não é bom e é necessário desenvolver.
Não olhar de frente as inabilidades pode ser uma perigosa limitação.
Uma pessoa pode ser competente em algo não por ter talento para aquilo, mas como consequência de muito esforço, treino, inteligência, dedicação e comprometimento. Por isso, também pode ser perigoso mapear os pontos fortes de uma pessoa apenas como retrato de sua entrega, ou percepção de outras pessoas. Também pode ocorrer de uma pessoa ter aptidão para algo que as pessoas à sua volta, nem ela mesma, ainda não perceberam. Ferramentas de assessment podem contribuir para a descoberta, ou revelação, dos talentos de uma pessoa, mesmo quando estes ainda não estão desenvolvidos a ponto de serem percebidos publicamente. Ao escolher uma ferramenta de assessment, investigue se esta tem por objetivo analisar o potencial ou a entrega – se a pessoa é competente em algo.
As ferramentas de assessment podem ser um turbo na vida e carreira de uma pessoa, ao identificar suas forças e limitações, principalmente quando são bem usadas, com o conhecimento do que cada uma mede e não mede, uma vez que elas trazem informações de “partes” das pessoas, nunca da pessoa como um todo.
Com o uso de uma análise de perfil comportamental (DISC, por exemplo), que mensura o potencial, uma pessoa pode notar que possui o fator I (influência) com uma intensidade acima da média da população – desta forma, uma das forças originárias deste fator é a facilidade de interagir e verbalizar com um grande número de pessoas. No entanto, e se essa mesma pessoa, ao responder a um outro instrumento de análise de perfil, agora na dimensão de competências, tiver constatado que possui uma baixa competência em Habilidades Interpessoais? Uma pessoa que tenha o impulso comportamental para falar e interagir com outras pessoas, e não é competente nisso, pode fazer inclusive com que essa força (comportamental) vire uma fraqueza, aos olhos dos outros.
Para deixar o cenário um pouco mais complexo, imagine que essa mesma pessoa, com uma alta Influência no DISC, tenha uma baixa inteligência interpessoal, o que também pode ser identificado com questionários desenvolvidos especificamente para isso. Nessa situação descrita, a pessoa, ao “soltar” livremente sua Influência (força identificada pela ferramenta DISC), pode ser muito mais uma fonte de problemas e inconveniências do que de soluções, realização e felicidade.
O nível do desenvolvimento da inteligência emocional pode ser o fator determinante para o sucesso da manifestação saudável dos talentos de uma pessoa.
Nossas limitações podem ser vistas como armadilhas, solavancos, buracos, obstáculos ou provas, na estrada de nossa vida. Ao obter clareza a respeito do que se deseja fazer na vida, para ter prazer e sucesso, não esqueça que, ao longo da viagem para a sua realização, haverá dificuldades, ou melhor, você irá se deparar com situações desafiantes que irão expor as suas incapacidades, as quais, se não superadas, poderão atrasar a sua viagem, ou até lhe tirar da estrada, impossibilitando-o de chegar ao seu destino, ou atingimento dos objetivos desejados.
Uma clara leitura do momento de vida e também a elaboração de um plano de voo, ou planejamento de vida, são fundamentais para que cada um de nós saiba qual o melhor momento para utilizar uma força, ou trabalhar uma fraqueza, pisar no acelerador, ou no freio. Ler os sinais do entorno e uma clara visão da distância de onde se está até o ponto a que se deseja ir podem facilitar o entendimento de que nem sempre uma linha reta será o caminho mais rápido e que trará melhores resultados.
Investir no conhecimento, desenvolvimento e uso dos pontos fortes é fundamental para uma vida plena, feliz e bem-sucedida, principalmente quando estes são utilizados na hora e no volume adequado, com a segurança de que não haverá nenhuma surpresa desagradável, proveniente de uma fraqueza de que não se tinha conhecimento, que foi menosprezada ou mal gerenciada.
Ter um alto rendimento profissional ou na vida pessoal nada mais é do que trazer, ou revelar ao mundo, os talentos únicos que cada um possui.
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